sábado, 7 de fevereiro de 2009

O Cenário

Considera-se a Bhagavad-gita como o primeiro livro de valores espirituais. Sua função é primeiramente elevar a consciência do estudante a fim de lhe dar condições para que inicie o estudo da filosofia Vedanta e, posteriormente, conduzi-lo ao sanatana-dharma, a ocupação no serviço amoroso ao Senhor.
Segundo os Vedas, o cosmo material se manifesta em ciclos de quatro eras: Satya, Treta, Dvapara e Kali. A era de Satya é caracterizada pelas boas virtudes. Sob o seu influxo, todos os seres humanos que vivem na Terra são repletos de qualidades divinas. Na era de Treta, há um declínio das virtudes e a Terra passa a abrigar ao mesmo tempo seres divinos e demoníacos. Na era de Dvapara, o aumento da irreligião e da impiedade se acentua a ponto do divino e do demoníaco passarem a viver na mesma família. Finalmente, na era de Kali, ou era das trevas, há um predomínio total de irreligião, hipocrisia e desavenças, e as naturezas divina e demoníaca habitam lado a lado no mesmo corpo.
Desse modo, foi há cinco mil anos, entre o final da era de Dvapara e o começo da era de Kali, que Sri Krishna veio a Terra e transmitiu a Árjuna o sublime conhecimento contido na Bhagavad-gita, removendo, assim, todas as suas dúvidas, ansiedades e lamentações. O cenário da Bhagavad-gita foi o campo sagrado de Kurukshetra, minutos antes da batalha mais violenta já registrada na história dos últimos tempos. Naquela época, a Terra e seus habitantes eram atormentados pela influência perturbadora de indivíduos materialistas e cobiçosos. Assim, como é confirmado no capítulo quatro dessa mesma obra, em tais situações o próprio Krishna sempre desce a este ou a qualquer outro planeta para eliminar os elementos indesejáveis e proteger diretamente as pessoas piedosas.
Como um eterno companheiro de Krishna, o guerreiro Árjuna está sempre fora da ilusão. Deve-se compreender, portanto, que ele foi colocado em ilusão pessoalmente pelo Senhor, que desejava transmitir os ensinamentos da Bhagavad-gita para as futuras gerações. Desse modo, ao representar o papel de uma pessoa absorta em sofrimento material e formular perguntas relevantes sobre os verdadeiros problemas da vida, Árjuna ajuda a compreendermos os mistérios mais intrigantes da nossa condição humana. Em outras palavras, Árjuna ilustra a condição daqueles que, influenciados pela existência material, são forçados a conviver com frequentes ansiedades e temores.
No começo da Bhagavad-gita, Árjuna demonstra sua humildade ao admitir sua incapacidade de solucionar os problemas que surgiram diante dele no Campo de Batalha de Kurukshetra. Abrigando-se nas divinas instruções de Krishna, ele gradualmente tem suas dúvidas e fraquezas removidas e se ilumina plenamente. A lição a se aprender é que, assim como Árjuna, ninguém tem a capacidade de encontrar as devidas soluções para os problemas que surgem na vida (independentemente do nível de educação ou inteligência que se possa ter), pois a vida prática é como o campo de Kurukshetra, onde a batalha entre o bem e o mal acontece a todo instante. Portanto, Árjuna mostra que se alguém quiser ser um vencedor da grande batalha que ocorre internamente, ele terá de se armar com o conhecimento transcendental da Bhagavad-gita, o qual se destina a todo guerreiro espiritual.

Um comentário:

  1. Krishna propicia o cenário perfeito para Árjuna se render completamente, desapegar-se dos aspectos materiais e atingir o agir consciente, o grande guerreiro do mundo material passou a ser um guerreiro repleto de espiritualidade, amor, devoção e consciência de Krishna.

    Hare Krishna!

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