sábado, 7 de fevereiro de 2009

Kurus e Pândavas

Vyasadeva era um sábio muito famoso e poderoso que levava uma vida retirada, praticando austeridades e penitências nas montanhas dos Himalayas. Com sua bênção, da união de Dhritarastra e Gandhari nasceram cem filhos, encabeçados pelo malévolo Duryôdhana, enquanto Pându teve cinco filhos com suas esposas, os quais ficaram famosos como Pândavas. Embora fosse mais velho do que Pându, Dhritarastra foi excluído da herança do reino devido à sua cegueira. Desse modo, Pându foi coroado rei. No entanto, seu reinado durou muito pouco, e, antes mesmo de ter filhos, Pându recebeu a terrível maldição de que seria morto no momento em que se entregasse ao ato sexual. Desse modo, Pându abandonou o reino e, acompanhado de suas duas esposas, foi viver na floresta executando austeridades. Vendo que novamente a dinastia estava ameaçada, uma de suas esposas, a gloriosa Kunti Devi, revelou que havia recebido a bênção do grande sábio Durvasa Muni de invocar qualquer semideus que desejasse para, desse modo, gerar filhos com ele. Portanto, a pedido de Pându, Kunti foi capaz de gerar três filhos gloriosos. Primeiro Kunti invocou Dharma, o semideus da religião, gerando assim um virtuosíssimo filho. Logo que nasceu, uma voz divina disse: “Esta criança será chamada Yudhisthira e será gloriosa, determinada, renunciada e famosa nos três mundos!”. Pându desejava também um filho com grande força física. Portanto, Kunti invocou Vayu, o semideus do vento. Tendo se unido com ele, uma criança muito poderosa foi gerada. Ao nascer, a mesma voz sobrenatural disse: “Esta criança será o mais forte dentre os homens!”. Em seguida, Kunti invocou Indra, o rei dos céus, e concebeu mais uma linda criança. Dessa vez, a voz celestial vibrou: “Ó Kunti, esta criança será tão forte como Kartavirya e Shibi, e, como o próprio Indra, será invencível na batalha. Sua fama espalhar-se-á por todos os lugares e ele obterá armas divinas”. Subsequentemente, Madri, a segunda esposa de Pându, gerou dois filhos: Nakula e Sahadeva. Esses cinco filhos – Yudhisthira, Bhima, Árjuna, Nakula e Sahadeva – ficaram conhecidos como Pândavas.
Desde a época em que Pându havia se retirado para a floresta, Dhritarastra assumira temporariamente o reino, até que Yudhisthira, o filho mais velho de Pându, atingisse idade apropriada para reinar. Entretanto, como resultado da maldição que havia recebido, Pându morreu antes que Yudhisthira fosse entronizado e os cinco Pândavas acabaram ficando sob os cuidados de Kunti Devi, uma vez que Madri havia renunciado sua vida, entrando na pira funerária juntamente com seu esposo. Depois disso, os Pândavas foram levados para Hastinapura, onde foram criados à maneira real sob os cuidados de Dhritarastra.
Portanto, como depois da morte de seu pai os Pândavas viveram sob o completo abrigo de Dhritarastra, eles também deveriam ser considerados filhos diretos de Dhritarastra. No entanto, fica bastante explícito aqui no começo da Bhagavad-gita que, infelizmente, Dhritarastra limitava seu interesse apenas a seus filhos, não se considerando responsável pela proteção dos filhos de seu irmão Pându. Em condições normais, tal comportamento por parte de Dhritarastra não fazia o menor sentido, uma vez que tanto seus filhos quanto os filhos de seu falecido irmão sempre viveram juntos no mesmo palácio, onde estudaram e aprenderam as ciências militares, políticas, etc.
O verdadeiro problema era que a cegueira de Dhritarastra também se manifestava na sua vida prática. Especialmente seu filho mais velho, Duryôdhana, havia herdado dele essa mesma cegueira e não queria conviver amistosamente com seus primos-irmãos, os Pândavas. Ele não conseguia tolerar o fato de que seus primos, encabeçados por Yudhisthira, deveriam ser coroados como sucessores do reino dos Kurus. Sedentos de poder, os invejosos filhos de Dhritarastra criaram uma situação insustentável, a qual acabou culminando na grande Batalha de Kurukshetra.
É importante verificarmos a grande preocupação de Dhritarastra pelo resultado dessa batalha. Em seu íntimo, ele podia compreender que a tentativa de seus filhos de usurparem o reino de seus primos era ilícita e, por conseguinte, estava destinada ao fracasso. Ao citar que a batalha aconteceria em Kurukshetra, um lugar de peregrinação, ele estava indiretamente perguntando a seu secretário, o místico Sañjaya, se a influência do lugar favoreceria os Pândavas, que eram seguidores estritos do dharma. Como resposta, Sañjaya inicia a descrição da situação no campo de Kurukshetra, transmitindo primeiramente o diálogo entre Duryôdhana e seu mestre de armas, Dronacharya.
Como um materialista cobiçoso e obstinado, Duryôdhana estava pensando que a força de seu exército era superior. Ele não podia compreender que o fato de Krishna estar ao lado de Árjuna definia completamente a vitória para o lado dos Pândavas, os quais, além de altamente qualificados, se sentiam plenamente dependentes e confiantes na misericórdia do Senhor.

3 comentários:

  1. Esta guerra ainda persiste, porém em meu íntimo...

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  2. Esta cegueira contamindada de materialismo, ego, paixões e ignorãncia somente é curada com a consciência de Krishna.

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